domingo, 23 de maio de 2010

Precisa-se de Garçons


Existem profissionais cuja presença quase nos passa desapercebida, contudo, a sua ausência nos incomoda profundamente, e o garçom é um belo exemplo. Quando entramos em um restaurante relativamente cheio, quase sempre temos a sensação que o número de funcionários é insuficiente.

Quem são eles? Tanto faz. Um “Zé”, João, Alfredo, Genésio, o fato é que o garçom precisa ser eficiente, nos atender com presteza, ser simpático, e nos tratar como “Vips”. Mas ninguém, por melhor que seja o atendimento, vai a um restaurante por causa do garçom, e sim pela comida que é servida. Quando muito, o atendimento pode ser “quesito de desempate” quando a comida de dois estabelecimentos se equiparam.

Jesus certa vez disse: “ O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20.28). Se o Filho de Deus, quando vivenciou essa experiência de ser humano, escolheu a servidão como marca do seu relacionamento com os homens, fazendo-se como um garçom disposto a saciar a fome existencial da humanidade, tendo como prato principal “fazer a vontade daquele que o enviou” (Jo 4.34). Se Jesus agiu assim, o que esperar de nós, que nos dizemos seus discípulos e seguidores? Lembro-me do que as Escrituras relatam, que pouco antes de ser preso, Jesus se reuniu para celebrar com os discípulos no episódio conhecido como “a última ceia”, ele entrou na sala trazendo consigo uma bacia com água, e pôs-se a lavar os pés dos seus discípulos e a dizer-lhes: Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.(Jo 13.15-17).

Vejo na figura do garçom o tipo quase perfeito sobre como devemos seguir a Jesus: servindo ao próximo! Deus não espera perfeição moral de nós (isso alcançaremos somente na eternidade), nem que tenhamos todas as respostas, ou ainda que ostentemos em nossos currículos somente vitórias, mas que sirvamos a mesa. É verdadeira a afirmação que as pessoas estão fartas de religiões, e paradoxalmente, famintas de Deus. Posso imaginar a multidão sentada, impaciente, pedindo a mesma coisa: “queremos conhecer a Deus”. E como em um restaurante com sistema de rodízio, cada garçom fica responsável por servir um tipo de iguaria, e mesmo não sendo capazes de apresentar de forma completa e perfeita, podemos compartilhar o que d’Ele temos recebido, pois o que faltar em nós, outros trarão em suas “bandejas.” Por acaso não foi assim na multiplicação dos pães? Os discípulos-garcons não tinham toda a provisão (na verdade eles não tinham nenhuma!), mas com os pães e os peixinhos trazidos por uma criança, com a bênção de Jesus, puderam saciar uma multidão.

Dito isto, posso entender o significado das palavras de Jesus: “a seara é realmente grande, mas poucos são os ceifeiros” (Mt 9.37), que parafraseando, ficaria mais ou menos assim: “o restaurante está cheio e poucos são os garçons”. Isso ocorre porque a mentalidade cristã em nossos dias resolveu que sentar-se a mesa para ser servida, é melhor do que servir. Tudo hoje gira em torno do conceito de custo-benefício, onde o serviço amoroso e abnegado deu lugar a um monte de gente que lota os bancos dos templos a cantar os seus “direitos espirituais” e a dizer sempre para Deus: “o que eu ganharei com isto?”

Mas é exatamente na resposta a essa pergunta que reside a crucial diferença entre os garçons e os discípulos. Todo garçom, por mais dedicado e simpático que seja, por mais que goste da sua profissão, tem em mente o seu pagamento no fim do mês (o que é absolutamente justo!), mas já os discípulos-garçons, não. Muitos tem uma vida de privações, de desconforto, de aperto e, por melhor que seja o seus serviços ao Reino de Deus, essa realidade não muda. Sei que soa até estranho em nossos dias falar de alguém que seja “abençoado” sem que isso tenha alguma coisa haver com a condição financeira da pessoa. Olhemos para os profetas, qual deles foi próspero segundo esse conceito pós-moderno? Ao contrário, morreram, pagaram com a própria vida o fato de confiarem e servirem a Deus. Por que quem vive para o serviço cristão sabe, que a nossa verdadeira e definitiva recompensa virá quando a eternidade adentrar na história, quando diante d'Ele estivermos, e então contemplarmos, suas mãos se estendendo em nossa direção, não com um maço de dinheiro ou riquezas, mas para nos abraçar e com um sorriso nos lábios proclamar perante toda a Criação:

- “Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo (Mt 25.34).

2 comentários:

Alex Lira disse...

Este texto nasceu no meu coração no dia da fatídica chuva que assolou o Rio de Janeiro (06-04-2010), quando começou a chover, eu estava engarrafado na praça Saens Pena, resolvi estacionar e fui comer em um rodízio de pizzas (essa glutonaria ainda me mata!), e foi ao peceber a intensa correria dos garçons que pensei:
"A igreja precisa de garçons"!

Dai Cazotti disse...

Desejo que Deus continue falando em seu coração para que você possa abençoar nossas vidas com textos tão interessantes e que nos fazem refletir sobre nossa vida enquanto cristãos!!
Continue sendo SERVO..
Graça e paz querido!
Daiane Cazotti.