terça-feira, 3 de maio de 2011

Getsêmani




Sinto-me só, em meio a tantos.
Quero te ouvir, em meio ao pranto,
De quem te ama, amor humano.
Com incertezas, temores, espanto.

Nesta hora de pavor e tristeza,
O vazio de Ti já me devora.
Prensas-me no jardim, tão taciturno.
Sobram-me os  gemidos, como quem ora.

Não há anjos a me consolar,
No absurdo, genuflexo, te adorando,
Seguirei a via, minha crucis.
Meu suor é só suor, mas também sangro.

Venham amigos de jornada,
Para grande festa às avessas,
Celebremos com fel servido em cálices,
Tua vontade, a recompensa.

domingo, 1 de maio de 2011

Sem Estrela





A morte ia comigo e eu, com ela.
E vi o seu ridículo vestido,
o andar desajeitado e sem sentido,
o rosto com penteado de donzela,

sendo tão velha, velha, no ruído
de suas meias e sapatos de heras.
Então não resisti e me ri dela,
caçoava de seus gestos confundidos.

E desta sisudez que nada espera,
mas sabe que na vida um só gemido
pode fazê-la emudecer. Insisto

em rir de sua passagem sem estrela,
sem grandeza nenhuma. E se resisto,
é porque está em mim quem vai vencê-la. 


Carlos Nejar