sexta-feira, 3 de março de 2017

Jesus pregou o Reino e em seu lugar veio a igreja



Esta é a espiritualidade de Jesus, base sobre a qual se construiu o edifício histórico do cristianismo. Em primeiro lugar, fez-se uma tradução da experiência de Jesus, e ela foi consignada nos quatro evangelhos. Em seguida criaram-se comunidades que tomaram Jesus como referência de vida e de sentido. Nasceram as igrejas, ritos sacramentais, credos doutrinários e códigos de conduta ética e moral. Lentamente se construiu o cristianismo como corpo histórico.

Mas atentemos bem. Jesus não anunciou uma Igreja. Ele anunciou o Reino de Deus e a transformação interior(conversão). Posteriormente, no seu lugar, surgiu a Igreja como comunidade de fieis, que crêem em Jesus. Essa evolução é quase fatal e férrea. Mas ela é outra coisa. Não pode ser identificada como a experiência original de Jesus. Ela está subjacente à Igreja e às suas instituições, mas não se identifica com ela. Uma coisa é a fonte de água cristalina.Outra coisa é sua canalização para o aproveitamento humano. O cano de água não é a água.

Infelizmente, muitas vezes os cristãos identificaram o Reino de Deus com a Igreja, e Jesus com o Papa, com o bispo ou com o padre. Essa identificação representa uma patologia e uma decadência. O meio se transforma em fim. A Igreja, em vez de se apresentar caminho de salvação, se apresenta, erroneamente, como a própria salvação, como se a imagem do pão fosse o próprio pão. 

As autoridades eclesiásticas, em de vez de serem representantes de Deus e do povo religioso, ocupam o lugar de Deus pela reverencia e obediência total que exigem. A Igreja deve ser como a vela acesa. O que ilumina é a chama, não a vela. A vela é suporte para que a chama queime, irradiando luz e calor. A vela é a Igreja, e chama é Jesus e sua experiência fundadora. 

Mas o que conta fundamentalmente no cristianismo em suas múltiplas igrejas é a experiência singular de Jesus de Nazaré. Nós seremos herdeiros de Jesus não por habitarmos a instituição cristã e seguirmos seus preceitos. Seremos herdeiros se tentarmos continuamente refazer a experiência de Jesus, se entrarmos no movimento de Jesus, nos sentirmos filhos e filhas de Deus, e , ao mesmo tempo, olharmos os outros também como filhos e filhas, tratando-os de dentro de cada um e fazendo de cada mulher de cada homem seus filhos e filhas, nossos irmãos e irmãs. 

Se a religião cristã, em suas várias formas eclesiais e institucionais, produz continuamente essa experiência, ela se transforma em caminho espiritual. Ela representa a espiritualidade pura. Mas se ela não transforma a nossa interioridade, se continua a ser apenas religião de consolo e meio de salvação por medo da perdição, ela se transmuta em ópio. Se permite que seus ritos e símbolos sejam usados e abusados no mercado religioso, especialmente pela grande mídia, para apenas suscitar comoção e não aquela transformação interior decorrente da experiencia do Deus vivo e do engajamento pela justiça, pela paz e pela integridade do Criador, ela se transforma em simples fetiche. Podemos até, com a religião, pecar contra Deus, e pela religião afogar a espiritualidade.

Por isso é sábia a prescrição do Decálogo ao coibir, no segundo mandamento, o uso do santo nome de Deus em vão. Talvez seja o mandamento contra o qual as religiões mais pecam, especialmente as Igrejas mediáticas. Nas rádios e nos programas de televisão é Jesus para cá e Jesus para lá, sem qualquer sentido de reverência e de moderação. Banaliza-se o sagrado, como se Deus, Jesus e as Escrituras fossem uma moeda circulante para todas as finalidades. O nome de Deus passa a ser usado para os interesses dos homens, não para os interesses de Deus, em dissonância com a natureza do sagrado e do espiritual. 


Texto tirado do livro " ESPIRITUALIDADE - UM CAMINHO PARA A TRANSFORMAÇÃO" - Leonardo Boff - Editora Sextante.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Santa Folia



Nesses dias de folia, no Brasil não tem igual
De Norte a Sul, do rico ao pobre,
Tudo vale, tudo pode,
Na grande festa deste tal de Carnaval.
Mas eu penso no final de tal folia
Quando acaba a alegria
O que sobra é só canseira
E ao raiar da quarta feira
As fantasias que tão lindas
Dão lugar a realidade,
E as muitas cores na verdade,
Se resumem só em cinzas.
Você pode achar besteira,
O que importa é aproveitar,
Dançar, pular, a noite inteira,
Até o mundo se acabar.
Quem não curte o carnaval
Bom sujeito não pode ser,
Não gostar de samba,
Trio elétrico ou dos blocos,
É doente do pé, já morreu,
Ou não sabe viver.
Mas não se trata do gostar,
Saber curtir ou festejar,
Mas um desejo que me invade
Quero um prazer sem validade,
E que na quarta não se acabe
E que não me faça lamentar.
Há um tipo de folia
Que se desfila no dia a dia
Sem fantasia, ou vaidade.
E se você quiser provar
Também pode, é só entrar,
Basta vestir o "abadá":
Jesus Cristo é a verdade!
Isso não é religião,
Nem coisa de crente ou santarrão,
É um convite a liberdade,
A vida plena, a humanidade,
Onde todos são irmãos
E não há segregação,
De cor, crença, sexualidade,
Deus é Pai, e nós, irmãos.
E falo com sinceridade,
Você não vai se arrepender
Ainda há tempo, basta vontade,
De Jesus Cristo receber.
Nestes versos ritmados
Eu só queria desfilar
Na escola da vida
No bloco da Graça
O Evangelho proclamar,
Que Deus é Pai, e abram alas
Que na nossa avenida
A passarela é a própria vida,
E o enredo é sempre amar.


Alex lira