segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Aprendendo a Confiar


“Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem.” (Mt 7.11)


Quantas vezes, na busca de satisfazer uma necessidade legítima, acabamos causando um mal para nós mesmos? É como comer algo estragado para saciar a fome, ou se envolver com alguém comprometido para escapar da solidão, ou quem sabe doar-se tanto ao seu trabalho e acabar por deteriorar seus relacionamentos pessoais. As necessidades são verdadeiras e justificáveis, mas as escolhas que fazemos podem nos prejudicar.

Há uma cena do filme “O Todo Poderoso” que ilustra bem o que eu quero dizer. Jim Carrey interpreta um personagem que recebe a incumbência de realizar o “trabalho” de Deus por alguns dias, e resolve responder as orações que lhes chegam aos milhares na forma de “e-mail”, mas percebe que ao terminar de responder aquela remessa, imediatamente está repletos de novas orações. Então, para facilitar, ele resolve responder “sim” a todas elas. Mas, ao sair pelas ruas, ele percebe que a vida das pessoas se transformou em um caos generalizado por terem seus pedidos atendidos.

A pergunta é: por quê? Ao que respondo com relativa facilidade: nós não sabemos pedir como convém! Não sabemos o que efetivamente nos fará bem e nos trará um sentimento de realização e felicidade. Isso nos ensina algo acerca do nosso relacionamento com Deus, que muitas vezes mantêm-se em silêncio quando precisamos de respostas “para ontem”, ou simplesmente nos nega, pedidos que lhe fizemos em oração de coisas que consideramos essenciais. Mas somente Deus conhece o que existencialmente nos fará bem, nos trazendo maturidade e crescimento.

Abraão quando foi chamado por Deus, não sabia exatamente para onde iria, a ele foi ordenado apenas “vai para a terra que eu te mostrarei”. Ele teve que confiar nesta Voz que lhe falou ao coração, peregrinando sobre o chão da promessa e vivendo em obediência, carregando no coração certezas não vislumbráveis pela lógica, ao que a Bíblia passou a denominar fé.

Hoje, assim como outrora, em meio ao ceticismo científico, a frustração religiosa, e ao pragmatismo existencial que tomou conta dos indivíduos, a nossa vocação continua a mesma: “o justo viverá da fé”. Não me refiro a esta fé interesseira usada como moeda de troca com Deus, mas falo de uma fé perseverante que nos faz confiar na voz d’Aquele que nos ama e cuida de nós, mesmo quando esse cuidado vem em forma de não!

É necessário fé em Deus para experimentar milagres, mas, é preciso mais fé ainda para amá-lo quando eles não acontecem.

Escrevo este texto a partir de uma experiência absolutamente pessoal, onde faço minhas as palavras do evangelista:

“Sem fé é impossível agradar a Deus.” (Hb 11.6 a)

Alex Lira