terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Regresso





Num instante, fantasias,
Cores, sonhos, prazer, festa.
Passou, como nuvens desmanteladas pelo vento.
Foi-se minha alegria,
Amigos, farras, folia.
O que sobrou? apenas lamentos.
Há um silêncio absoluto em meu ser.
Até a lembrança mais tênue me faz despertar.
Acordo. Caio em mim.
Mas, desta vez, o “cair” me levanta.
Decido. Só existe uma maneira de prosseguir: voltando.
Ensaio desculpas, algo que me faça parecer menos tolo.
Cabisbaixo, porém resoluto,
Faço o caminho de volta,
Por estradas que para mim são velhas conhecidas.
Temo. Tremo.
Não ouso fazer afirmações sobre o futuro.
Quando mais me aproximo sinto vergonha do que me tornei;
Sou apenas uma sombra pálida do homem arrogante no dia da partida.
Estou próximo, aumenta a certeza de que nunca deveria ter partido.
Parti teu coração.
Perdi-me, quando queria me encontrar.
Encontrei-me ao perceber o quanto estava perdido.
Os perfumes da tua casa me inundam com lembranças,
Retratos olfativos de um tempo em que a felicidade morava comigo,
Apesar de ser uma ilustre desconhecida para mim.
Meu coração acelera, minhas pernas trêmulas e cansadas anseiam por chegar.
Quando percebo, antes que qualquer frase me salte da boca,
Teu abraço, que me cala a voz,
Aquece a minha alma, e te ouço sussurar:
- Tu és meu filho amado !

Alex Lira

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Minha mensagem de Natal !


Por José Barbosa Junior
Há muito tempo atrás um poeta decidiu escrever sua obra. Poetas são seres mágicos, suas palavras têm o poder de criar mundos. Basta que digam e as coisas acontecem, surgem do nada, ex nihilo, desejos que se transformam em coisas.

Esse poeta criou mundos assim, pela sua palavra. Bastava dizer e as coisas vinham à existência. Era característica dele o gosto pela criação, e sempre ao final de cada criação ele via que tudo aquilo era bom... e seguia adiante... criando coisas, até que decidiu encerrar a sua criação. Era hora de escrever a sua obra prima, sua grande ária da magnífica ópera que começava a existir.

Havia um cuidado especial para a criação de seu mais grandioso poema, não bastariam as palavras ao vento, Ele as queria escrever com as próprias mãos, seria diferente, ao invés de simples palavras, barro... e então a obra foi feita, imagem e semelhança dEle. O grande poeta então, ao ver sua obra ali, como ele queria, soprou sobre ela... e a poesia ganhou vida, ganhou palavras novas, ganhou o sopro do criador... inspiração... expiração... vento...

Mais tarde, ao contemplar sua magnífica obra percebeu um ar de tristeza na sua poesia, faltava-lhe algo, faltava-lhe rima, algo que o completasse inteiramente... havia um vazio em meio a algumas linhas e o poeta fez com que sua poesia dormisse, e sonhasse... nos sonhos os mundos também se criam...

Ao acordar de seu sono o poema se viu completo, as palavras agora se encaixavam perfeitamente, e havia sentimentos novos... desejo... amor... coisas que só um poeta entende, e sua poesia também. E assim conviviam bem, poeta e poesia, autor e obra, e da criação passou-se à nomeação das coisas, palavras novas, imaginação, imagem em ação, nomes, palavras, seres... vidas...

Até que um dia um cientista resolveu aparecer para complicar a história. Cientistas detestam poetas e odeiam poesias. Afinal, cientistas são conhecedores do bem e do mal... então o cientista resolveu oferecer ao poema a “grande chance” de deixar de ser poesia e tornar-se uma grande tese acadêmica, afinal a poesia é para os sonhadores, loucos, boêmios, amantes, mas as teses científicas é que dominam o “mercado” e nos dão garantia de sermos deuses, conhecedores de todo o bem e todo o mal.

A poesia cedeu sua beleza e encanto à praticidade do texto científico... houve um borrão no poema original, que perdeu sua essência... tornou-se um texto chato, cansativo, longo demais... textos desses que ninguém consegue entender, dizem até que num determinado momento tal era a confusão que a tese se dividiu em línguas diferentes, nem ela mesmo se entendia... babel... confusão...

Algo deveria ser feito para se reconquistar a poesia original... mas... o que ? Um poema como o original, algo tão belo que, ao morrer poesia (e toda poesia traz em si um pouco de morte) apagasse as manchas do primeiro poema e restaurasse a beleza que havia escondida sob os borrões das teses cientificas, sob o conhecimento do bem e do mal.

Os filósofos, amigos dos poetas, chamavam o criador de poemas de Verbo, verbo é a alma do poema, poemas sem verbos são chatos. Imagine um poema sem amar, sentir, chorar, sonhar, ver, ouvir, tocar, cheirar, sofrer...

Pois o verbo... se fez carne... o poeta se fez poesia, e mais...se fez criança. Crianças e poesias tem muito em comum... não se levam a sério demais. Brincam com a vida, brindam a vida. Como diria o poeta Rubem Alves: “O natal é um poema. Nele Deus se revela como criança (...) Prefiro o Deus criança. No colo de um Deus criança, eu posso dormir tranqüilo.”

Isto é natal!! Poesia, amor, canção... tudo embalado e regido por uma criança... deixai vir a mim os pequeninos porque dos tais é o reino da poesia. Deus é o poeta... nós somos o poema... Jesus é o poeta-poema feito criança... natal!!

Já quis muito ser teólogo... hoje não quero mais.... quero ser poeta. Um teólogo vê uma criança e trata de elaborar uma tese, talvez sobre a soteriologia infantil, pedobatismo, idade da razão, etc. O poeta vê uma criança e brinca, faz poesia, e a criança brinca com ele, vira poema! Viva a poesia! Que o natal seja o renascimento de poetas e poemas, de canções de amor, de sonhos, de jardins repletos de felicidade...

Que o poeta seja reverenciado, que o poema-criança seja amado, e que o poeta que se fez poesia seja lembrado como o criador dos versos mais maravilhosos que ele já fez, mudando de vez a história... mudando a nossa história...

Feliz Natal!!!

José Barbosa Junior

sábado, 22 de dezembro de 2007

Idéias


Ricardo Gondim.


Minhas idéias flutuam como pipa de menino;

dançam presas numa fina linha.
Minhas idéias são delicadas como mãos de bailarina;

desenham ondas no amplo vazio.

Minhas idéias se agitam como tino de louco;

rodeiam celas amplas e solitárias.
Minhas idéias se alucinam como viagens de poeta;

buscam achar o mundo da utopia.

Minhas idéias se contradizem como gritos de profeta;

almejam a vida sem coerência terem.
Minhas idéias fluem como calmos ribeiros;

se renovam para depois morrerem.


Soli Deo Gloria

Por quê ?


Ricardo Gondim


Por que a noite se arrasta tão longa?

Por que a madrugada se cala silenciosa e fria

?Por que a saúde não contamina feito a doença?Por que a poesia nasce do sofrimento com mais facilidade?

Por que o coração percebe o que a mente não sabe?Por que o sonho se dissolve, assim, rapidamente?

Por que a saudade dói sem solução?

Por que o espelho mente para o olhar da solidão?

Por que a morte não respeita a paixão?


Soli Deo Gloria

Pipas


Estou cansado de correr atrás das pipas.
Afinal, quem precisa delas?
Olho, resignado, seu bailar ao vento.

Para que precisaria eu possuir uma ?
Basta olhar, cansa menos
Não ter que empiná-la, mantê-la no ar,
Ou me preocupar com o seu destino.

Não aguento mais.
Basta um momento de distração,
Lá estou eu novamente
Correndo atrás das pipas.

Acho que é a disputa,
Talvez exibí-la, orgulhoso,
Como um troféu diante dos outros:
- Minha pipa !

E depois, o que farei?
Empinar, enfeitar, vender, guardar?
Não importa. Preciso de mais pipas.

Coisas de menino.


Alex Lira