terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Por que continuar na igreja ?


Talvez alguns anos atrás eu não teria a menor dificuldade em dizer para qualquer pessoa inúmeras razões para justificar o seu ingresso ou permanência em uma igreja “evangélica”. Mas hoje, devo confessar que não tenho mais a mesma facilidade. Não que o Cristo a quem sirvo e tenho como Senhor tenha mudado, não que a mensagem da Cruz tenha perdido a eficácia, mas a igreja enquanto instituição mudou. A igreja deveria servir a Cristo, mas hoje em dia, em muitos lugares, tem servido a outros “senhores”, a interesses completamente opostos ao Reino de Deus. A igreja deveria servir ao próximo, deveria servir para promover vida, porém, é inegável que muitos têm feito da “casa de oração”, um “covil de ladrões e mercadores da Palavra”.

Mas, mesmo com minha alma um tanto “amarga”, fiquei meditando em motivos para continuar na igreja, e decidi compartilhar com todos aqueles que em algum momento da sua caminhada na fé, também já fizeram este questionamento.

A igreja é o que a Igreja faz. A igreja enquanto instituição é formada por todos os tipos de indivíduos. Há os interesseiros, os neuróticos, os frustrados, os manipuladores, os estelionatários da fé, há aqueles com sede de poder, e existem também os cristãos sinceros. É exatamente neste tipo de cristão, o autêntico, aquele que não se conforma com o erro, aquele que não negocia a sua fé, que está arraigado em Cristo de tal modo que não há vento de doutrina que o arranque, que reside a esperança da igreja. Pois a mão de Deus se move na história através da consciência e das atitudes destes indivíduos, que fazem e refazem, que destroem para reconstruir a história da igreja cristã.

A forma serve enquanto não for desprovida de essência. Quero dizer com isso que, a igreja como instituição não pode e não deve ser descartada enquanto preservar nas suas doutrinas e práticas a essência pela qual ela foi estabelecida, ou seja, promover a comunhão entre os santos (salvos), anunciar as boas novas da salvação (proclamar o Evangelho), adorar a Deus, e vivenciar os valores éticos do Reino de Deus. Enquanto essas características estiverem presentes, ainda que de forma cada vez mais tênue, a igreja institucional não deve ser rejeitada.

A igreja como instituição promove a dignidade do ser humano, defendendo valores que estão caindo em desuso. Através da conversão, todos têm direito a serem feitos “novas criatura”, com novos valores, perdão, ou seja, a começar de novo. Quantas e quantas pessoas conhecemos que, estavam no fundo do poço, e através da fé que abraçaram através da pregação de alguma igreja, conseguiram reestruturar as suas vidas? Além disto, os valores éticos defendidos nas maiorias das igrejas ainda são fundamentais, e tornar-se-ão um novo paradigma na sociedade quando esses mesmo valores que apregoamos tornarem-se uma prática em nossas vidas.

Jesus ainda freqüenta a igreja. Esse talvez seja o principal motivo, pois se não houvesse mais a presença do Cristo nas reuniões, templo e religiões cristãs, então não valeria mais a pena estar lá. Mas, a despeito de toda zombaria e escárnio que tem se feito com o nome de Deus, mesmo com todos os erros, mesmo com a perda da identidade de muitas igrejas, Jesus não desistiu delas! Veja ao seu redor, ainda há conversões genuínas, ainda existe cura para o doente, ainda existe um povo que não retrocede na sua esperança, que sabe que é de Deus, e por ser de Deus, não desiste nunca. Aliás, nós não desistimos, por que Ele não desistiu, e prometeu que, onde estiverem dois ou três reunidos em Seu Nome, ele ali estará.

Que as mudanças comecem na minha vida, na sua vida, então haverá esperança para a igreja.

Paz e Renovo sobre a tua alma.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Como nasceu a Parábola


Antigamente, a Verdade andava nua pela rua. Os homens se afastavam do seu caminho e ningém a deixava entrar em casa. Até que, um dia, ela se encontrou com o Conto, a quem todos amavam.

- Ninguém gosta de mim - disse a Verdade. - Sou velha demais!

- Eu também sou velho - disse o Conto. - E, no entanto, todos me amam. Não é pela sua idade que todos te rejeitam, é porque andas nua por aí. Se vieres comigo, te emprestarei lindas roupas e verás como as pessoas se interessarão por ti.


E assim nasceu a Parábola.


(Conto chassídico)

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

O Pink e o Cérebro



Os estúdios da Warner Bros. em parceria com o famoso cineasta Steven Spielberg, criaram a alguns anos um desenho animado curioso, “O Pink e o Cérebro”. O desenho narra as aventuras de dois ratos de laboratório, onde o “Cérebro” é um rato baixinho e com uma gigantesca cabeça, que além de muito inteligente, também é acometido de uma megalomania crônica, cujo objetivo diário é “tentar dominar o mundo”, e o seu parceiro o “Pink” é um rato mais alto que adora se exercitar na sua gaiola, cuja imbecilidade acaba sempre estragando os planos maquiavélicos do Cérebro. Eles são parceiros inseparáveis, cujos interesses convergem apenas no fato que o Pink vê no Cérebro o seu melhor amigo, e o Cérebro vê no Pink apenas uma “mão-de-obra” barata.


Há neste desenho animado uma parábola pós-moderna das relações eclesiásticas, dos interesses que permeiam a cristandade evangélica dos nossos dias. Mas o que é uma parábola? A parábola é uma forma de contar uma verdade, utilizando-se de elementos do cotidiano. Essa era a forma preferida utilizada por Jesus para falar as verdades eternas do Reino de Deus para as pessoas comuns, de modo que os mais simples poderiam alcançar a compreensão das suas palavras, e quiçá, os significados profundos dos seus ensinamentos. Vemos em nossos dias inúmeros exemplos da megalomania que se apoderou da mente e do coração dos nossos líderes (nem todos, porém uma grande parte.), dos homens e mulheres que, a priori, foram chamados para “apascentar” almas, para cuidar de vidas, para conduzir este povo tão sofrido e sem direção a Jesus, mas em lugar disto, tornaram-se “empresários” que falam em nome de Deus, como se tivessem adquirido uma franquia de representação comercial do Reino de Deus e seus derivados. Por exemplo, se observarmos o nome de alguns estabelecimentos com a alcunha de “igreja cristã”, notamos claramente a “síndrome de Cérebro”: “....do Avivamento MUNDIAL” (mesmo que só possua uma sala e poucos membros!), “.... uma visão MUNDIAL”, “....INTERNACIONAL de não-sei-o-que”, e por aí vai. Caso você não tenha notado, a maioria dos logotipos das igrejas tem um globo terrestre com uma pomba, ou um fogo, ou símbolos cristãos dos mais diversos.


O grande problema disto, não reside apenas no fato da liderança evangélica no Brasil estar preocupada com o tamanho do seu “rebanho” ou na projeção do seu “ministério”, mas nos meios em que estão utilizando para alcançar os seus objetivos (nós não somos discípulos de Maquiavel, sim de Jesus Cristo, caso o tenham esquecido alguns de nossos líderes!). As relações que se estabelecem dentro de muitas igrejas (escrevo com “i” minúsculo,pois refiro-me a instituição e não ao “Corpo de Cristo”) são de uma superficialidade espantosa, onde as pessoas não são a prioridade e sim os números que elas representam, não são constituídos vínculos fraternais autênticos, mas um jogo de interesses, quase um “fast-food” espiritual.
Em nome do Reino de Deus, muitos “atropelam” as pessoas, e se esquecem que o Reino de Deus estabelece-se nas (e através das) pessoas, e que sem elas não existe Reino. Na ânsia de “tentar dominar o mundo”, nesta sede pelo poder (e o pior é que o poder religioso estabelece-se em nome de Deus) perdem a essência de sua missão, perdem a essência do seu próprio ser, como já dizia o próprio Jesus: “o que aproveitaria ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” (Mt 16.26a).


Mas e o que dizer dos “Pinks”? Será que algum dia vão perceber a sua própria força e passar a viver sem a tutela dos “Cérebros eclesiásticos”? Estarão eles fadados a serem “massa de manobra” ou a superficialidade dos relacionamentos e os constantes fracassos lhes produzirão uma consciência mais amadurecida? Não tenho respostas. A liberdade assusta, é mais fácil e cômodo viver sob a tutela de alguém, do que andar por fé e de acordo com a consciência que o Espírito Santo gera em nós. Precisamos uns dos outros sim, porém estas relações de poder destituídas de amor e amizade, só servem para criar “castas espirituais” adoecer a nossa alma.


A diferença entre esta parábola da vida eclesiástica moderna e o nosso futuro como Igreja, reside no propósito e no roteiro escrito pelos autores. “Deus não joga dados” declarou Albert Einstein, encontrando no Universo um propósito em sua ordem, e além de um propósito a Bíblia declara que “Deus é amor” (I Jo 4.16). Creio de todo meu coração que vale a pena continuar a crer na igreja, como um projeto que dignifica o ser humano, e como expressão de comunhão entre os salvos, e também como agente de implantação dos valores éticos do Reino de Deus. Creio ser possível servirmos a Deus, enquanto servimos ao próximo, porque somente assim, através do amor não fingido e do serviço desinteressado, é que seremos conhecidos como discípulos de Cristo (Jo 13.35).


Continuemos seguindo a Jesus, que não precisa “tentar dominar o mundo”, pois n’Ele, por Ele e para Ele é que existe todo o Universo.