segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Ser Profeta


O profeta é um ser estranho.
Sua vida na verdade é servir, sem necessariamente, ser visto.
Sem honras, sem fama, sem benefícios pessoais,
O profeta é apenas uma voz, a serviço de Deus.

A vida do profeta está intrinsecamente ligada a profecia,
Mensagem e mensageiro não se dissociam.
Ele fala do que vive, e vive aquilo que diz,
Melhor dizendo, até a sua vida prega.

Esse estranho ser não negocia, não se vende,
Sua satisfação não está no sucesso de sua mensagem,
Seu compromisso é com a Verdade,
O único a quem ele busca agradar, é Deus.

O profeta só não está completamente solitário,
Porque sua voz encontra retorno em Deus,
Que “assina em baixo” do que ele diz,
Tornando-o inquestionavelmente verdadeiro.

O profeta é um ser que vê, enxerga (até mais do que gostaria!).
Ver o faz dizer, doa em quem doer (até nele mesmo!),
Denunciar, criticar, mostrar a doença e apontar a cura.

Examinando a Bíblia, você seria capaz de citar algum com “vida mansa” e “final feliz”?
Se o critério for a Palavra, todos os “popstars” da atualidade, ficariam de fora.
Seria essa uma espécie em extinção?

Já dizia o sábio Salomão:
“Onde não há profecia, o povo se corrompe.”

Pv 29.18a

sábado, 27 de janeiro de 2007

Esaú, Jacó e a Vocação de todos nós.


Nestes dias estive repensando na estória dos gêmeos Esaú e Jacó. A narrativa bíblica nos mostra que, mesmo sendo eles gêmeos, as suas personalidades eram completamente diferentes. Esaú, que era um exímio caçador, vendeu ao seu irmão o seu direito de primogenitura (que segundo a cultura hebréia, se revestia de significados espirituais, além dos benefícios na partilha da herança) por um cozido de lentilhas que o seu irmão Jacó, um sujeito mais pacato, cuja habilidade residia muito mais na sua esperteza do que na força física, lhe preparara. Esaú ficou estigmatizado como alguém que trocou a sua “bênção” por um simples prato de lentilhas, enquanto que Jacó, usou de todos os seus artifícios (lícitos ou não) para conseguir uma melhor “sorte” espiritual.

Ao reler a narrativa, percebi que o comportamento dos “cristãos” hodiernos tem apresentado caracterísicas muito mais do arquétipo representado por Esaú, do que o de Jacó. Tente explicar para um pai de família desempregado que a “eternidade” é mais importante que um “cozido com lentilhas” na mesa da sua família. Vivemos uma realidade cruel em nosso país, aonde os idosos morrem em filas esperando o atendimento médico em um posto de saúde, jovens são bombardeados pela mídia com apelos sexuais, a violência que nos tornou reféns em nossos próprios lares, esse conjunto de fatores geram em nós um sentimento de total desamparo e impotência diante das nossas necessidades mais básicas. Como pensar na eternidade se as “contas” do mês nos lembram a todo o momento que, somos seres aprisionados no tempo, inseridos em um contexto histórico, do qual ninguém escapa.

De certo que está escrito que “nem só de pão viverá o homem...” (Dt 8.3), mas devemos lembrar que, o homem também vive do pão que o sustenta. Não dá para ser “espiritual” com a “barriga vazia”. Uma vez formado esse quadro, proliferam-se cada dia mais as religiões, seitas e denominações que possuem uma mensagem direcionada para a solução dos problemas cotidianos. Com isso constroem-se “deuses” que são a nossa imagem conforme a nossa semelhança, trazendo alguma esperança para o já combalido coração dos seres da espécie “brasileirus-perdidus”, daí provém o deus-doril (para dores em geral), o deus-espantalho (para afugentar os “gafanhotos” da sua colheita), deus-silvio-santos (que dá casas, prêmios, fama, emprego, se você pagar em dia o “carnê do baú da felicidade”), e mais tantos outros quanto a imaginação fértil dos mercadores da fé conseguir produzir. Essas caricaturas de divindade, não salvam, não transformam a vida de ninguém, não mudam o caráter, mas elas devem ter a sua utilidade (pelo menos para alguns!) mesmo que, não forneçam a solução definitiva para os problemas, apenas satisfaçam momentaneamente as nossas necessidades. O grande problema é que tudo isso está sendo feito em nome do Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que não nos alienou, porém, nos chama para um Reino Eterno, aonde somente lá realizar-se-ão todas as utopias da humanidade.

Para vivermos uma espiritualidade verdadeira em nosso país, temos que aprender a confiar no caráter de Deus, cujas mãos não estão encolhidas e nem os seus ouvidos agravados, precisamos experimentar o que significa “andar por fé”, não uma fé que mais parece uma “moeda” de troca com a qual se faz “barganhas” com Deus, mas uma fé que confia e se entrega, uma fé que apesar de não ser “cega” para nossas necessidades, não se deixa seduzir pelo imediatismo que o mundo nos oferece.

Quem nos olha pode até nos confundir, pois até nos parecemos com ESAÚ, saímos do mesmo ventre, somos gêmeos, mas a nossa vocação é possuir um coração de JACÓ, que não era o preferido, não era o mais forte, não era o mais apto, tinha falhas em seu ser, porém, desejava o ETERNO Deus, mais que tudo. Se realmente desejamos ter um coração como o de Jacó, então o Deus de toda Graça nos encontrará no Caminho, lutando conosco para nos mudar, marcando-nos a alma para que a noite que nos viu JACÓ dê lugar ao dia em que quando o “SOL DA JUSTIÇA” se revelar, encontre pela sua frente a ISRAEL......

Quem tem olho em terra de cego?


Lc 18.35-43

Gostaria de sugerir (para uma melhor compreensão do texto), a leitura das passagens paralelas do texto de Lucas: Mt 20.29; Mc 10.46. Quantos cegos estavam presentes neste episódio, em Jericó? Será que temos aí uma contradição bíblica?

Na verdade, o que existe nestes textos correlatos não é uma contradição, mas sim uma informação complementar. A idéia que os textos nos passam é que havia mais de um cego, porém, Bartimeu protagonizou o diálogo e recebeu conseqüentemente a cura do Cristo.

O que você considera como cegueira? A falta de um nervo ótico sadio, ou em um sentido mais amplo, a incapacidade de ver? Essa pergunta se torna pertinente, pois dependendo da resposta, o número de cegos muda consideravelmente. Afirmo isto me valendo do dito popular: “o pior cego é aquele que não quer ver”.

Bartimeu é qualificado, obviamente, dentro da primeira classe de cegueira (a física), porém, se levarmos em consideração a capacidade de “enxergar”, aquelas coisas que estão para além da capacidade física, coisas que só podem ser visualizadas com a alma, então Bartimeu estaria mais próximo de outro dito da sabedoria popular: “quem tem olho em terra de cego, é rei”, ao qual eu talvez acrescentaria que, se não é rei, ao menos se torna filho do Rei.

O texto declara que “ele estava assentado junto do caminho, mendigando” (v. 35), o que dentro da realidade sócio-cultural da época nos leva a concluir que, sua condição era de alguém marginalizado, excluído, e para o pensamento religioso judaico, era um “amaldiçoado” por Deus (Jo 9.2). Mas mesmo estando à beira do caminho, abandonado por tudo e por todos, quiçá até por Deus (segundo o pensamento da época), seu desejo de encontrar um caminho para a vida era tão intenso, que o Caminho o encontrou, para mudar a sua vida definitivamente (Jo 14.6).

Suas palavras ao se aproximar de Jesus revelam que, apesar de ser cego, enxergou com nitidez a obra de arte que Deus pintou em Cristo, percepção de quem foi adestrado pela vida, e que mesmo em trevas, estava aberto para a visitação da “Luz do Mundo” (Jo 8.12).

Ele disse: “Filho de Davi, tem compaixão de mim”. Com esta frase, ele expressou algumas verdades latentes na sua alma, como por exemplo, o reconhecimento que Jesus era o Messias que viria da linhagem de Davi, coisa que muitos fariseus não conseguiram crer apesar de verem os sinais que por Jesus eram realizados e o conteúdo de suas palavras que expressavam o “espírito” da Lei. Outro fato que percebo em sua declaração, é a perspectiva pela qual ele se aproximou de Jesus, sem negociações a fazer, sem mascarar os seus interesses, sem esconder as suas limitações, apenas clamando por compaixão, que é o sentimento que viabiliza todas as bênçãos de Deus para a humanidade. O dicionário define compaixão como sendo “pesar que a desgraça ou a dor de outro despertam em alguém”, o que nos remete a um raciocínio muito simples: se este sentimento ainda habita nos corações dos homens (ainda que cada vez mais raro!), o que dizer de um Deus que é Pai, e um Pai que é Amor, ao ouvir um filho seu clamar por compaixão (Lc 11.11-13; I Jo 4.16)?

E por último, Jesus condiciona o milagre à autenticidade da fé de Bartimeu (v. 40), pois quando a fé não é apenas uma arma da mente ou produto de uma confissão vazia de significados, mas sim a afirmação do que esta no coração, então imediatamente os nossos olhos se abrem (v.42).

Note bem, até esta altura o povo estava atrás de Jesus (mas não o seguia), ouvindo seus ensinamentos (mas não guardando suas palavras), olhando na direção de Jesus (mas sem vislumbrar a presença de Deus). Mas diz o versículo 43: “e todo o povo vendo isso, dava louvores a Deus”.
O milagre na vida de Bartimeu ocasionou outro milagre em Jericó:

“A cura do mendigo sem-vista, serviu para curar um povo sem-visão”.

Deus te abençoe!